GEOGRAFIA HUMANA
Por José Luís Avelino
(Mestre em Geografia Humana e Planeamento Regional e Urbano)
DEMOGRAFIA
A evolução demográfica do concelho de Alpiarça durante os últimos sessenta anos tem sido caracterizada por grandes oscilações. Com efeito, a períodos caracterizados por algum dinamismo (décadas de 50, 70 e 90 do séc. XX) têm vindo a suceder-se períodos de recessão demográfica (anos 60 e 80 do século passado e primeira década do séc. XXI).
À data do último censo, a população do concelho de Alpiarça fixou-se nos 7.702 habitantes, perdendo mais de três centenas de habitantes relativamente ao ano de 2001, voltando, deste modo, aos valores populacionais de 1991. Por conseguinte, o peso demográfico do concelho no contexto da sub-região da Lezíria do Tejo diminuiu ligeiramente.
O concelho de Alpiarça apresenta uma densidade populacional de 80 habitantes por km2, valor inferior à média nacional (113 habitantes por km2), mas superior à média da sub-região da Lezíria do Tejo (58 habitantes por km2).
Evolução Recente da População no Concelho de Alpiarça e Densidade Populacional
Fonte: INE (Recenseamentos da População, 1991, 2001 e 2011)
Os fatores que têm estado subjacentes à dinâmica populacional do território nacional têm vindo a sofrer alterações consideráveis. De facto, se até aos anos 70 do século passado a evolução demográfica era, em grande medida, determinada pelas migrações internas e externas, já em períodos mais recentes são as componentes do saldo fisiológico e os movimentos migratórios os principais responsáveis pelas alterações populacionais em Portugal.
Nas últimas décadas, as diferenças entre o saldo fisiológico e o saldo migratório no concelho de Alpiarça acentuaram-se ainda mais por duas ordens de razão. Em primeiro lugar, manteve-se a tendência para a quebra acentuada dos níveis de fecundidade, gerando saldos fisiológicos negativos. Concomitantemente, ocorreu uma alteração no sentido dos fluxos migratórios em Portugal, passando o nosso país a ser o destino de muitos emigrantes provenientes dos países do leste da Europa.
O fenómeno demográfico recente mais marcante da sociedade portuguesa - a quebra dos índices de fecundidade- afectou com particular acuidade o concelho de Alpiarça. Assim, o número médio de nascimentos por mil habitantes é relativamente baixo, tendo diminuído de 9,1%0 em 2001, para 7,4%0, em 2011. Este fenómeno resulta, por um lado, da generalização dos métodos de planeamento familiar e, por outro, da progressiva integração da mulher no mercado de trabalho. Contudo, não é de descurar a degradação de rendimentos de algumas famílias em virtude da crise que afeta o país, gerando uma maior propensão para a redução do número médio de filhos por casal.
Em consequência da quebra de fecundidade e do envelhecimento populacional, a taxa de mortalidade bruta apresenta valores significativos, ligeiramente acima dos 15%0, ainda que não existam dados disponíveis para o concelho de Alpiarça para o ano de 2011.
A quebra da fecundidade e o aumento da esperança média de vida levaram a que a estrutura demográfica do concelho de Alpiarça sofresse nos últimos anos profundas transformações. A tendência tem sido para o reforço do envelhecimento da população, expresso no aumento considerável no peso da população idosa com mais de 65 anos de idade – atualmente esta população representa cerca de 1/4 do total da população do concelho (peso superior às médias nacional e regional).
Ainda assim, e contrariamente ao que sucedeu na maioria do país, ocorreu um ligeiro aumento do peso da população jovem com menos de 15 anos, permitindo, assim, travar o processo de aumento do índice de envelhecimento que vinha ocorrendo noutros períodos de tempo (passou de 1,80 em 2001 para 1,65 em 2011). Já o índice de dependência total aumentou de 0,56 para 0,65 no mesmo período de tempo, o que traduz o aumento da população inativa (jovens e idosos) face à população em idade ativa.
Evolução da Estrutura da População Residente (%)
Fonte: INE (Recenseamentos da População, 2001 e 2011)
O envelhecimento demográfico é particularmente evidente quando se observa a Pirâmide Etária do concelho de Alpiarça. Com efeito, é notório o duplo fenómeno de envelhecimento, quer na base (devido à quebra da taxa de natalidade) quer no topo da pirâmide (devido ao aumento da proporção de idosos reflexo, em parte, do aumento da esperança média de vida). Ainda assim, parece esboçar-se um processo de rejuvenescimento expresso num ligeiro aumento da percentagem do primeiro grupo quinquenal.
Pirâmide Etária do Concelho de Alpiarça
POVOAMENTO
O concelho de Alpiarça caracteriza-se pela existência de uma estrutura de povoamento bastante concentrada, uma vez que a sede de concelho concentra mais de 77% da população total residente no concelho.
Contudo, durante a última década, a vila de Alpiarça viu diminuir ligeiramente o seu peso na estrutura de povoamento de Alpiarça, em parte, devido à tendência para que o crescimento urbano se desloque para o núcleo do Casalinho, sobretudo através do proliferar de algumas construções unifamiliares em áreas de charneca. Este fenómeno tem gerado a formação de um eixo urbano (Alpiarça- Casalinho), com uma crescente interdependência entre os seus núcleos. Os restantes aglomerados com mais de 300 habitantes não registaram alterações significativas nos seus quantitativos populacionais (embora se evidencie um ligeiro decréscimo populacional nos diversos aglomerados).
População em Lugares com mais de 300 Habitantes e Variação 2001-2011
Fonte: INE (Recenseamentos da População, 2001 e 2011)
Em face do exposto, pode hierarquizar-se a rede urbana do concelho de Alpiarça do seguinte modo:
• Pólo Urbano – A vila de Alpiarça constitui o principal núcleo urbano do concelho, atraindo população de todo o concelho, devido à concentração de actividades e equipamentos;
• Pólos Complementares – Os núcleos de Frade de Baixo, Frade de Cima que têm revelado uma considerável procura para construções unifamiliares, e o Casalinho (com cerca de 300 habitantes) constituem os restantes aglomerados com alguma relevância demográfica, embora possuam lógicas de integração territorial distintas: os dois primeiros estão bastantes ligados ao concelho de Almeirim (sobretudo do Frade de Cima à vila das Fazendas de Almeirim), enquanto o Casalinho constitui o prolongamento natural do processo de expansão urbana da vila de Alpiarça.
BASE ECONÓMICA
O concelho de Alpiarça mantém ainda uma forte vocação agrícola, pelo que em termos de atividade produtiva, as culturas da vinha, do milho, do tomate e as hortícolas constituem as produções dominantes num concelho com bons solos agrícolas. Daí que, em termos empresariais, o peso deste setor no concelho seja dominante e superior à média regional e nacional. Também a sua localização geográfica e as boas acessibilidades fazem de Alpiarça um ponto estratégico para uma maior implantação do seu setor industrial, nomeadamente o induzido pelo sector agrícola ou pela proximidade e arrastamento de outros centros urbanos regionais. Do mesmo modo, a atividade terciária tem vindo a acompanhar, e especialmente a complementar, o desenvolvimento da estrutura produtiva do município.
Entre 2001 e 2011 a população ativa do concelho diminuiu, acompanhando a tendência regional e nacional. Este fenómeno é, essencialmente, explicado pela diminuição da população em idade ativa, consequência do processo de envelhecimento populacional.
Inversamente, a taxa de desemprego registou um incremento considerável nas diversas unidades territoriais, consequência do período de crise que se tem vindo a acentuar nos últimos anos e que terá já levado a que os valores referenciados nos Censos de 2011 estejam desatualizados. A taxa de desemprego é ainda mais elevada no município de Alpiarça, como resultado da crise agrícola associada à concorrência externa.
Evolução das Taxas de Atividade e Desemprego (%)
Fonte: INE (Recenseamentos da População, 2001 e 2011).
Nos últimos anos, alterou-se profundamente a estrutura do emprego nacional, regional e local. Efetivamente, acelerou-se o processo de terciarização, tendo no concelho de Alpiarça aumentado o peso do sector de serviços. Esta mudança faz-se sobretudo à custa de transferências do setor agrícola para o setor terciário. Todavia o peso do setor primário em número de empresas e em termos de população ativa continua a ser superior aos níveis da região e do país.
Em 2011 o setor dos serviços ocupa já cerca de 2/3 da população ativa. Embora com valores abaixo da média nacional teve um crescimento idêntico ao verificado na região. O valor percentual dos ativos no terciário de natureza económica é ainda dominante mas, tal como noutros concelhos da Lezíria do Tejo, o que se verificou foi essencialmente uma expansão do terciário de natureza social. Esta evolução do terciário reflecte a expansão no concelho de serviços como a educação pré-escolar, básica e secundária, os serviços ligados à saúde e assistência social e, a presença de residentes que são ativos nestes serviços nos concelhos limítrofes (sobretudo nos concelhos de Almeirim e de Santarém).
População Residente Empregada, por Sector de Atividade, no Concelho de Alpiarça