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Monumentos

 

A Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça é, sem dúvida, em termos de monumentos, o ex-líbris de Alpiarça. No entanto, mais alguns monumentos se poderão visitar. Destacamos a Igreja Paroquial de Alpiarça, não esquecendo os mais recentes trabalhos do escultor Armando Ferreira, natural de Alpiarça, que através da sua obra muito tem contribuído para a divulgação do concelho.
 

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   Cruzeiro datado 1575






   Santo Eustáquio



                                                                 

:: Igreja Paroquial de Alpiarça   

Por: Nuno Prates*

A Igreja Paroquial de Alpiarça é uma construção datada do século XIX (1889), inaugurada por D. José - Cardeal Patriarca de Lisboa.

A Igreja ficou concluída no dia 20 de Junho de 1889, mas foi inaugurada a 11 de Agosto.

Todo o seu recheio foi oferecido, desde os altares, imagens, paramentos e quadros, provenientes de vários locais.

A igreja é um templo de uma nave e capela-mor e conta com seis capelas laterais, com painéis pintados nos retábulos. Todo o templo é vasto e claro, com tectos altos de estuque.

Algumas peças que existem na igreja foram ofertas de José Relvas, sendo disso exemplo dois altares em talha dourada miúda, talvez de origem conventual.

Na entrada do templo, ao lado da porta e do arco triunfal, existem pinturas do século XVIII. A pintura que está à direita é do século XVII e representa o aparecimento de Cristo à Virgem.

Nos nichos estão imagensnum o Salvador e no outro Nossa Senhora dos Anjos, esculturas do século XVIII.

De todas as peças que estão na igreja e sacristia, salienta-se uma composição a óleo sobre tábua, representando o Calvário, talvez de origem flamenga do século XVI. Destaca-se também uma pintura sobre tábua do século XVI, talvez de origem italiana, representando a Virgem a ser coroada por dois anjos, acompanhada por São Roque, São Sebastião e Santa Catarina.

De realçar ainda uma pintura portuguesa do século XVIII, representando a Divina Pastora, retratando bem o espírito da época.

Na tela surge a frase "Vinde todos para minha may", que sai da boca da pastora. No lado esquerdo da tela, vê-se um lobo que persegue uma ovelha fugitiva, que é defendida por um anjo de espada de fogo em punho.

O exterior da igreja é muito simples, possuindo duas torres enquadradas num harmonioso conjunto arquitectónico. Também no exterior do templo encontra-se um cruzeiro datado do século XVI (1575). Este cruzeiro, que hoje está no adro da igreja paroquial, esteve em tempos colocado à entrada da vila, onde se situava a antiga igreja (hoje jardim municipal), sendo de seguida colocado junto ao cemitério.

O santo padroeiro da vila de Alpiarça é Santo Eustáquio, cujo verdadeiro nome era Placidus, um general romano. Esta mudança de nome deu-se quando Placidus encontrou um veado que trazia entre as hastes um crucifixo resplandecente. Após este encontro, Placidus torna-se cristão e baptiza-se com o nome de Eustáquio, com ele estavam também a mulher e dois filhos. O Imperador Adriano prometeu o perdão a toda a família, caso esta se sacrificasse aos ídolos. Após a recusa a esse sacrifício, a família é condenada dentro de um touro de bronze aquecido ao rubro.

Santo Eustáquio é o padroeiro dos caçadores e aparece representado com um veado. Comemora-se a sua festa no dia 20 de Setembro.

* Licenciado em História, Variante de Arqueologia

Bibliografia:
PRATES, Nuno; REI, Seara
Alpiarça e a sua História, Trabalho apresentado na cadeira de História Moderna de Portugal, Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra, 1997. (Aguarda publicaçã

 

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 :: Monumento a José Relvas

Obra do escultor João Limpinho  


   Este monumento, inaugurado em 31 de Outubro de 1982,  destina-se a homenagear este habitante de Alpiarça, que também foi um vulto daRepública e que teve um papel preponderante na elevação de Alpiarça a concelho. De realçar também o seu legado económico e cultural concretizado nas suas propriedades e pela sua casa de habitação verdadeiro pólo de erradicação cultural pelo seu recheio e que é conhecida como a Casa Museu dos Patudos quer a nível nacional como internacional.


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 :: Monumento ao 25 de Abril

Obra do escultor Armando Ferreira

  - Inaugurado no dia 25 de Abril de 1995, fica situado no Largo Salgueiro Maia também inaugurado na mesma data.

  Este monumento foi executado pelo Escultor Armando Ferreira, que na no acto da inauguração pronunciou a seguintes palavras:

"Quero saudar todos aqueles que estão com o 25 de Abril e que ama a Liberdade.
Inaugurar um monumento alusivo ao 25 de Abril, é ter consciência do grande significado desta tão desejada mudança de Regime Político, que teve lugar no nosso País em 1974, tempos muito difíceis, homens, mulheres e crianças viveram vidas de agonia.
Não vamos esquecer que durante muitas décadas a palavra Liberdade não vinha nos livros e, os Poetas tinham de ignorar e, da nossa boca pronunciada, tinha de ser ao ouvido e em voz muito baixa, este é o maior direito do Homem hoje conquistado.

Fim à morte sem sentido e a todos que me querem tirar a voz, o vento sopra Liberdade, assim nasce uma nova Sociedade."                    

 

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 :: Busto ao Dr. Hermínio Duarte Paciência   

      
Obra do escultor Armando Ferreira

Situado na Instituição José Relvas, inaugurado no dia 2 de Junho de 1995, este monumento homenageia este ilustre democrata pela sua actividade em prol de Alpiarça e dos Alpiarcenses.

O Dr. Herminio Paciência dedicou 25 anos da sua vida à Instituição José Relvas.

Exerceu também actividade como oftalmologista de forma gratuita, chegando a pagartanto medicamentos como óculos aos pacientes que o procuravam no seu consultório e eram de reduzidas posses.

Como empresário agrícola, também a sua acção foi notória, porque em matéria salarial avançava com propostas superiores à média, levando assim os restantes lavradores a seguirem o seu exemplo.


A implantação deste busto da autoria do escultor alpiarcense Armando Ferreira tem como objectivo por um lado o perpetuar a sua memória e por outro para que o seu exemplo seja para os mais novos.

 

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 :: Solidariedade

 

Obra do escultor Armando Ferreira

                       
Estátua de homenagem aos  Bombeiros Municipais, foi inaugurada a 6 de Março de 1999 por ocasião do 50º aniversário da Corporação.

Acerca deste monumento escultórico considerou o autor que:

"...se pretende protagonizar uma união mais coesa, mais fortalecida dos valores fundamentais da solidariedade, bem como o reconhecimento do valor humano inestimável, que durante 50 anos esta corporação de Bombeiros ofereceu às populações, pondo em causa as suas vidas e a dos seus familiares a troco de uma certa indiferença do próprio sistema envolvente".


Acrescentou ainda que:

"...este é sem duvida o lugar propício para a implantação desta escultura".


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:: Fonte de Vida

Obra do escultor Armando Ferreira             
Inaugurada a 2 de Abril de 2001.

Memorial do lugar Alpiarça

  "Zona de aluvião que o tempos geológicos foram acumulando numa interminável tarefa de milénios, aqui se fixaram populações vindas de diversos pontos do interior, também amante do Tejo, diria o poeta e ao Tejo se deve quase tudo.  Do fluir calmo do verão à força imparável das cheias invernais, ponto de referência do homem que se ligou à terra e com ela se fundiu neste espaço muito próprio: terras de "Borda d'Água".


   Esta escultura que simboliza germinação. Terra grávida que a água fecunda e o sol permite desabrochar em simbiose perfeita, produzindo fonte de energia regeneradora com raiz de maturidade e força telúrica, gerando um espaço de abundância, árvore magnânima que sem exigir.


   Dei o nome a esta escultura fonte de vida porque ela representa a força mágica da transformação de um ventre em vésperas de oferenda.

 

Embrião de vida que emerge num milagre periodicamente repetido.


   Aqui nasceram gerações, aqui foi maternidade hoje é lugar de crianças e idosos, noutros tempos foi o princípio, hoje é o meio e o fim, surge assim como natural a necessidade de implementar neste espaço, este símbolo que vai dar raiz ao futuro, transmitindo a omnipresença da conjugação das forças naturais da fertilidade e o que a mesma emana, na génese e modelação da região e do povo que somos.

                                                  

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:: Ao Ciclismo  

           
 Inaugurada a 2 de Abril de 2005.

 

   A representação que faço do realismo na minha obra tem como objectivo oferecer vitalidade destas grandes maquinas humanas, desenvolvendo na competição forças físicas que estão para além da nossa expansão racional. O realismo vai buscar o seu enorme poder ás suas formas atormentadas, encerradas na inefável pungência humana, não se esconde por trás de outro qualquer estilo não tendo prazo de validade, passa e resiste em todos os tempos e gerações.


   Este conjunto escultórico foi concebido a partir da ideia, de fazer perpetuar emblematicamente a realidade do ciclismo de Alpiarça em Portugal, "primeiro entre os primeiros", não podendo nem devendo perder essa memória ficando assim consagrada.

   São muitos os "vencedores" exibindo o nome de Alpiarça, Nesta terra subordinada a contornos de crenças estáticas germinaram sempre grandes valores tanto no ciclismo como noutras actividades culturais e científicas que tanto nos honram .

  Homens com variadas profissões se propuseram a correr de bicicleta centenas de provas perfazendo milhares de quilómetros sem preparação física, técnica e apoio adequados. Esta homenagem é apenas uma parte daquilo que estes homens merecem.
  Neste conjunto escultórico o "sprinter e vencedor" são ambos ciclistas de Alpiarça. Tendo a intenção de fazer representar os lugares cimeiros que ocupamos na história do ciclismo e também o valor da entreajuda e do sofrimento por troca de se ser herói.  O "sprinter" veloz no seu percurso consciente do seu valor atlético impõe a velocidade que os outros não conseguem acompanhar.
  O "vencedor" num momento heróico eleva os braços e exibe nas mãos bem alto o nome de Alpiarça, não foi um atleta mas sim todos os que contribuíram para este protagonismo nacional. Pormenores não faltam da vaga e expansão que o ciclismo da Alpiarça teve, centenas de histórias provam o que não posso deixar de referir – a tendência do não conformismo, que imperava por parte de todos os intervenientes desta modalidade, Foi esta forma de ser de ciclistas, treinadores e familiares, que proporcionou a expressão que Alpiarça teve no mundo do ciclismo.                    

 

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:: A melhor Casta            

Obra do escultor Armando Ferreira

Inaugurada a 25 de Abril de 2005.

   Por mais esforços que se façam, evocados em discursos retratados em várias formas de arte, nunca poderemos reconhecer na totalidade a valência mais preciosa que a natureza lhe incumbiu.
   Uma fonte criadora emanada de fertilidade gera a vida, é sinónimo do amor da esperança , da dor, da perfeição e da beleza.
   Foi envolvida com passados de amarras preconceituosas, percorrem em tantas gerações caminhos agrestes e impiedosos de subidas sem fim, onde o cansaço foi vencido pelo "Querer", em todos os momentos lutou para se libertar das forças que a escravizaram e a esmagaram.

   Faço esta alegoria ao vinho, com a criação desta escultura, onde não dispensei a figura "Mulher", porque encontro no seu todo uma corrente poderosa de energia e considero a mais alta expressão dos poderes criativos e visuais do homem.
   Num gesto de espreguiçar para um novo dia, de sorriso aberto e confiante, desperta atenções apregoando "A Melhor Casta" e anuncia a necessidade da propagação das mesmas para a nossa região.
   A transparência das suas vestes tem como intenção representar todas as mulheres de todos os tempos, ligadas á temática vitivinícola, gerações do passado e do presente.
   Querendo o nu representar nesta alegoria ao vinho todas as mulheres, também é uma bandeira à conquista da sua própria liberdade, à sua beleza e ao seu encantamento vinhateiro por excelência agitado e maravilhoso.
   Tendo verdadeira consciência que a temática do vinho tem muitas gerações e continua a estar encutida na alma dos alpiarcenses, hoje com técnicas bastante evoluídas não pude dispensar emblematicamente a "Mulher", porque em todos os espaços laborais ela está presente, desde o vindimar dos cachos passando pela laboração nas adegas, até á enologia .   

 

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:: Dr. Hermínio Duarte Paciência

Obra do escultor Armando Ferreira

Inaugurada a 23 de Abril de 2007

 

" Ao Dr. Hermínio Paciência

       comportamentos na vida de homens, que por vezes depois de suas vidas, conseguimos reflectir e sentir conscientemente qual foi a sua verdadeira dimensão.

    Não será com a realização desta simbologia escultórica e sua inauguração, que deva findar os momentos de reflexão e identificação, mas antes deve estar aberto a interrogação de todas as pessoas, e aquelas que frequentem este espaço de promoção do conhecimento no sentido de procurar perceber o porquê desta tentativa de materialização das referências deste notável homem, Dr. Hermínio Paciência, de forma a identificarem-se com o espaço e de atribuírem significado a esta consagração, que pretende ser viva e dinâmica em todos os tempos.
     Nós alpiarçenses, participamos neste reconhecimento se ao reflectirmos, sentirmos verdadeiramente as intenções deste homem carismático norteado por princípios culturais e de elevada moralidade, tendo também presente o quanto foi importante a sua paixão humanista, que trouxe tantos benefícios em prole do bem-estar de todos os que necessitaram da sua ajuda.
    A dinâmica do conjunto escultórico traduz esse homem de sabedoria e confiança, médico distinto e de grande benemerência, agricultor com respeito pelo próximo, protector dos trabalhadores, solidário com os pobres, lutador pela causa da liberdade, tendo feito parte do movimento directório democrático e social da campanha do General Humberto Delgado.
   Em suma, o que encontro na sua pessoa é tudo o que a razão humana deve sustentarPerfeição e Transparência, qualidades estas materializadas neste conjunto constituído por dois cubos, que sendo figuras perfeitas formadas por seis faces rigorosamente iguais, representam a Perfeição, cuja disposição que adquirem tem a intenção de representar a Transparência, que estão em ligação permanente a si próprio.
    O movimento dado à escultura gestualizada de comunicabilidade, representa a dinâmica da sua vida. Por conseguinte, protagoniza o homem de carácter participativo; compromissos partilhados; planificação com sabedoria; decisão com humildade; sustentação da dedicação do percurso da sua vida procurando sempre valorizar a prática da competência, e, também homem de impulso democrático.
    Em gesto de ligação ao terceiro elemento, a esfera, figura anti-estática, que simboliza o entusiasmo enérgico do seu carácter sempre em movimento na aurora da sua vida, endereçando com determinação e gratuitamente a sua experiência como força primária para todos que queiram ser futuro.  

       Bem hajam a todos.           

Armando Ferreira"


 

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:: Monumento ao Povo de Alpiarça

Obra do escultor Armando Ferreira

Inaugurada a 30 de Agosto de 2013

Esta obra foi inaugurada em simultâneo com a inauguração da nova Praça do Município.

A cerimónia contou com a presença do Secretário de Estado da Administração Local, Dr. António Leitão Amaro, do Presidente da Câmara, Dr. Mário Pereira, do autor do monumento, o escultor Armando Ferreira, de todos os elementos da vereação e de outros eleitos autárquicos e demais convidados. 

 

Excerto da intervenção do escultor Armando Ferreira, no momento da inauguração:

 

"Nesta faixa de terra física e cultural que o Tejo tem, as pessoas se habituaram durante séculos, a organizar as suas vidas.

 

Sol, Água e Terra conjugam-se aqui em simbiose perfeita, que faz desta região a zona mais fértil do território nacional. Tempos geológicos foram acumulando, numa interminável tarefa de milénios, o maior espaço de abundância.

 

Chama-se Ribatejo, a vastidão da lezíria, os campos de aluvião, ondulado por vinhedos e olivais e salpicado por povoações dispersas oriundas de vários pontos do país, aqui se fundiram: Gaibéus, Barrões, Serranos, Bimbos, Avieiros,…pessoas que precisaram de matar a fome. Uns partiam e outros iam ficando. Somos descendentes desses.

 

Antes das máquinas tomarem as grandes tarefas agrícolas, era a braços e descalço que tudo se fazia.

Era os tempos do capataz e dos ranchos contra a fome;

Era o tempo do trabalho de sol a sol;

Era o tempo de algum pão e pouco conduto;

Era o tempo da pobreza de um avio;

Era o tempo do role dos assentos de fiados;

Era o tempo da praça de jornas;

Era o tempo das mãos e pés com gretas;

Era o tempo de selar o contrato de trabalho na taverna e honrado com a molhadura.

Neste universo, como tudo na vida evolui, nesta obra em escultura faço representar esse povo que passou uma vida de sofrimento.

 

Semeando ternura e amizade

Adubando a terra, com sorriso e canções

Lembrando a noite que não tarda

Chegando os invernos de mágoa.

 

Século XX, a aurora começa a romper,

o escuro das ideias.

Vai surgindo um espaço em luz.

De sol a sol, brilhando nas costas curvadas

com jeito de aquecer

o que já está queimado.

Um tamanhão de anos de corpo suado.

Terra, torrões e leivas

tanto vos tenho olhado,

com esta enxada tão grande,

com força de besta

mais regos te faço

e te dou de beber,

no teu ventre escaldante

os teus filhos irão nascer.

 

Numa pausa de trabalho,

vou comer este bocado de pão

que me sai deste saco ressequido,

igual a este torrão.

 

E vou pensar, pensar, pensar,…

 

Não há forma de o amanhã ser diferente,

Quem sabe! É preciso pensar, pensar,…

 

Não quero ser só a besta de trabalho.

Um homem é um homem, e não um cão.

 

Descansa enxada grande

estou cansado.

Sai da minha cabeça boné, preciso de ar novo.

Tenho o cabelo encharcado de suor,

Preciso da cabeça fria.

 

O olhar fixo em coisa nenhuma, e o pensamento perdido

por entre tantas coisas que queria ver realizadas.

 

As memórias de tristeza e desilusão,

Trabalho duro, sendo a sua riqueza a família,

Comendo desejos.

 

Com telhados de nada

paredes de palha

e portas abertas para os deuses.

 

Chegou o dia de refletir.

As garras que o fere e que o mata,

não é a doença nem a fome,

mas sim outros homens.

 

Os tais deuses, que encomendam

conveniências de cegueira à PIDE,

para continuarem a ser donos

da injustiça.

 

Sim. Se houve um quartel da PIDE em Alpiarça,

isto diz a todos que o homem do campo,

não era só uma besta de trabalho,

também foi pensador,

e passou a haver muitos pensadores

e reuniões clandestinas,

sopradas por ventos noturnos

senhas prensadas nos colarinhos das camisas

papel mastigado e engolido por um susto

segredos enviados por nuvens

encontros debaixo de árvores sem sombra

códigos nos olhares

códigos nas vozes

portas que se abrem à força

gritos de mulheres, de tamancos batendo

no seixo das ruas, iluminadas pela lua dos deuses.

 

Estes homens de ontem também foram,

os capitães de Abril

É verdade que muitos já partiram.

E quem somos nós?

Não somos os seus descendentes?

Somos com certeza e moramos e trabalhamos, na mesma terra,

Somos todos vizinhos. Todos.

 

Esta obra tem o sentido de fazer representar o povo do passado e presente, pois estaremos para sempre ligados à terra que faz germinar, tudo o que é necessário para a sobrevivência de todos nós. Será sempre, mas sempre uma terra agrícola.

 

Para os Alpiarçolhos, Alpiarçeiros e Alpiarcenses, o trabalho duro e árduo, não era obstáculo para deixar de pensar, por isso, houve…

 

tantas prisões, tantos clandestinos,

tanto cansaço.

não tenho outro jeito

vou pensar, pensar,…

talvez, amanha me saia esta dor no peito

quem sabe, talvez eu consiga

alargar, o aço da enxada que herdei.

 

Obrigado.

 

Amando Ferreira"

 
 


 

 



 
 

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